O encontro presencial do Pluriversais do dia 02/08 tinha como tema: relações familiares e amor próprio e foi daqueles que marcam fundo. A roda girou em torno de um tema que atravessa todo mundo: como lidar com relações tóxicas e, ao mesmo tempo, cultivar o auto amor. O espaço se abriu pra gente falar com o coração, compartilhar vivências e se reconhecer nas falas uns dos outros.
Logo no começo ficou claro que pra cuidar de si é preciso entender o peso das relações. Saber quando se afastar, quando impor limite, e perceber que “nem todo limite é limitação”. Limite também é cuidado. Mas aí vem a pergunta que pegou forte: até onde colocar limites não é visto como violência? Já ouvimos que impor limites é ser agressivo, é ser “violento”. Mas e se, na real, isso for só o nosso jeito de não se deixar esmagar?
Outra reflexão que bateu fundo foi a diferença entre desconforto e violência. Em qualquer relação vai ter incômodo, faz parte da vida a dois, em grupo, em família. Mas violência não dá pra normalizar. E aqui veio um lembrete essencial: não é porque é família que tudo deve ser aceito. Família é quem faz bem quando está por perto.
A conversa caminhou pra dentro das nossas tradições afro-brasileiras. Ali, a família não é só laço de sangue: é escolha, é afeto, é quem anda do nosso lado de verdade. Foi bonito ouvir que, em algumas religiões negras, a gente pode escolher quem chama de irmão, mãe, pai, filho. E isso é força, não fraqueza.
Também falamos da importância de priorizar as relações. Saber quem realmente importa, quem tá no círculo de confiança, quem merece estar perto. E quando não rola, afastar não significa abandonar. Às vezes é só um respiro, um jeito de se reencontrar e até voltar melhor. É se afastar pra não perder o amor.
O autoamor foi o fio condutor de tudo. Pra que eu consiga amar o outro, preciso me amar primeiro. E nesse processo, é comum que a sociedade nos olhe como “monstros” quando rompemos padrões, quando deixamos de aceitar piadas, violências mascaradas ou papéis de submissão. Mas se amar é resistir.
Teve também a lembrança de como o capitalismo engole nossas relações, criando expectativas irreais sobre o outro e sobre nós mesmos. Mas, apesar disso, a escolha é nossa: às vezes, mesmo sabendo das dores, decidimos estar presentes porque o afeto também é força.
No fim, a sensação foi de circularidade: começamos falando de afastamentos e limites, e terminamos compreendendo que tudo isso é também uma forma de manter. Não é punição, não é abandono. É estratégia de cuidado, pra que possamos voltar mais fortes, mais inteiros e mais verdadeiros nas nossas relações.

O encontro deixou a marca de que auto amor não é egoísmo, é necessidade. E que nas nossas escolhas, no jeito de conduzir as relações, podemos sempre reinventar o que é família, o que é cuidado e o que é liberdade.
Papo dado Pluriverso, até mais…